sexta-feira, 30 de abril de 2010

Desabafo e Spleen

No fundo isso que estou vivendo não passa de uma farsa. Uma grande farsa estúpida e besta que eu concordo cegamente em acreditar. Toda essa ideologia e esses discursos retóricos, essas convicções e teorias. É tudo muito belo até você passar a ver que sua vida é uma grande mentira e que você vive pelos outros. Que você é só uma marionete e um dia você será esmagado por alguém e no dia seguinte esmagar alguém.
Se resta algum amor no mundo eu só peço que esse se revele para mim. Não quero perder meu tempo com mais desgostos e desventuras fúteis, com mais vaidade intelectual ou estética física superficial. Eu quero algo alem das falhas didáticas escolares, eu quero algo alem as mazelas do governo ou das favelas do novo mundo.
Eu já não sonho com democracia ou aquela máxima de algum “socialismo ortodoxo voodoo” que alguns hippies pregam nas esquinas ou nas facudade de humanas.
Se você quer saber, a solução é beber da cachaça que estamos afogados até os cabelos para amenizar a dor dos grilhões que nos prendem a nossa própria liberdade nesse sistema sujo e contestável.
Eu to cansado da religião ser encosto pra toda merda que as pessoas inventam todos os dias, isso me irrita profundamente porque depois algum infeliz sempre quer vir compartilhar da desgraça dele e me pregar algum ensinamento idiota e manjado que eu faço questão de ignorar.
Eu to cansado de estar cansado e exausto de tanto clichê, o motivo maior para não dar um tiro na minha cabeça é simples. É que eu sou tão cego quanto uma toupeira em um túnel... Eu só sigo meus sentidos. Cavar cego até a morte.

Lucas Boina

"Como eu odeio esse texto"

Faunos ao leste helênico

Enrijece a alma em flauteadas campestres
Os espíritos que aqui caminham capeados
Banhados de fino cetim tingidos de vinho
Cantos e taças, nobres faunos escornados.

Ave, dádiva natura que fogueia os homens.
Banha-te a mente de fática música celeste
Os acordes nus dos escaldos de antiga era
Gorjeando os sibilos das florestas do leste

Ouve o som dos que precedem as reuniões
Cala vossa boca e escuta o som dos cascos
Enquanto bebe o vinho das vossas canções

Assim bem diziam os animalescos flautistas
“Aqueles que da pura música se alimentam,
Jamais choram por faltas das próprias notas”

Lucas Boina

Ferreiro 75

Um copo de vinho
Uma flor no jardim
O sabor alcoólico
O perfume efêmero
Lembranças...

Quantas besteiras
Isso que a brisa me traz
O vento é somente sonho
Nada poético é fiel
Se não... Lembranças.

Lucas Boina

O discurso da Raiva

São torrentes lacerantes de palavras e eventos que rasgam e dilaceram cada parte que solidifica meu autocontrole. Um aríete de ferro e madeira esmurrando os portões da minha paciência.
Não há muralhas intransponíveis ou eternas, um dia se romperão e minha legião avançara como chamas aterradoras de fúria e confusão. Não terei a piedade que antes tive e nem a misericórdia que sempre cultivei. Você queimara meus campos e me fara chorar e destas lágrimas nascera à ira e dela a minha vingança. E lhe digo que esta será inesperada e bem feita.
Isso não é uma ameaça ou um aviso, e sim uma promessa aos meus inimigos que tanto admiro e tendem rotulam-me como um bastardo qualquer.
Deixe-me sem recursos e condição de vida, e assim eu beberei do seu sangue para matar minha cede e comerei da sua carne para sobrepujar minha fome e tendo por fim sua alma para me aquecer do frio que erradia do seu inerte cadáver, prelúdio de um verão prospero de alegrias.
O homem luta pela necessidade de lutar e mata pela necessidade de matar. Eu sou humano...

Lucas Boina

"Dedico a nossas raivas, camarada"

Dejeto poético

Acalmar-me-ei das angustias pra escrever meus versos. Não suporto mais a agonia de viver com brasas no peito e estacas no coração. São rachaduras que brotam de minha fronte, fazendo assim, escorrer cada idéia espremida da minha cabeça.
Já não posso me deleitar de suculentas palavras de uma poesia ou uma insurreição epifanica inspiradora. Pois não tenho mais para quem escrever, minha poesia se tornou vazia e seca. Só resta-me a egolatria e o egoísmo da metalinguagem.
Vejo que é fúnebre uma folha em branco. Preferia vê-la suja de meu próprio sangue a ter de tê-la ausenta de vida. Hei que choro meus amores esquecidos. E fadigado busco ar em incertezas passionais.
O poeta não deve ser feliz e nem deve ser triste, é vazio o sentimento solitário. Tempos de alegria e estabilidade nos bloqueia a evolução, e encontra partida, tempos de tormenta e desventuras nos abala e fustiga-nos ao suicídio.

Flores um dia morrem... Eu só apodreço.



(E agora estou sozinho)

Lucas Boina

"Dedico isso a eu mesmo"

Mais uma carta

Cara amiga,

É verdade
Como te descrever?

Se não há palavras, como posso te rascunhar meu bem?
Fragmento todas as minhas vozes para falar com você e se não a nada de concreto como posso vus desenhar por completa? E assim, ter uma recordação meramente emblemática de minha ilusão. Talvez seja exagero meu, e provavelmente seja, mais de fato vejo algo em você meu bem. Posso te chamar assim?
Pois bem, ele (aquele que tanto beijas) escreve tantos versos, diz tantas palavras, troca tantos poemas e faz tantas coisas para ti que me sinto impotente e simplesmente desmotivado em te dizer "ti quero". Então eu espero, eu fumo, bebo, desapareço na misantropia. Minha mágoa é que toda essa penitência seja inútil, afinal essas paixões normalmente acabam decepcionando, certo?
No fim das contas eu te quero, mas não ti amo, pelo menos não tenho esta certeza, e continuo sofrendo por essa rasura mal traçada e tentando rascunhar o perfil turvo que é essa sua face em minha vidinha pacata.

Lucas Boina

"Dedicado a Fernanda... Ela merece pelo estrago que me fez fazer em mim mesmo"

Canto do Quarto

Minha habitação resumida a quatro paredes de um quarto, uma garrafa de uísque e um cigarro aceso em uma noite quieta de inverno. Sentado em um canto sozinho ouvindo música, bebendo e fumando incessantemente.
São quase 3:30 da madrugada e eu acordado com a cabeça pesada de conflitos e tempestades. A casa vazia e calada a espera das campainhas tocando e dos jovens bêbados sujando o chão de vômito e barro. Tudo é calmo nesse momento presente, um ambiente perfeitamente pleno de harmonia, temperado com o som das árvores dançando aos toques do vento em suas copas.
Fecho os olhos por um estante e me desligo...
Sinto um toque macio perto de minha boca, ela me beija a face e eu abro meus olhos.
_Não ouviu a campainha tocar?_ Pergunta a garota com um sorriso e um hálito etílico ao lado de suas duas amigas.
_Não, mas fizeram bem em entrar.
Perguntei então como foi a noite e como passava, ela nada disse sentou ao meu lado com o mesmo sorriso alegre. As duas que estavam de pé me cumprimentaram enquanto Amanda levava a mão ate a bolsa e retirava um pequeno papel fino e o colocava sobre a mesa ao lado de um pacotinho que havia me entregado mais cedo.
_Pelo jeito ainda tem muito álcool pra hoje?_ Disse uma de suas amigas olhando e pegando a garrafa de uísque e dando uma generosa golada no mesmo.
Ligamos o som do meu computador na caixa de som e começamos a conversar enquanto ouvíamos música. A luminária apagada sendo que o quarto estava iluminado somente pela brasa de nossos cigarros acesos, que logo se apagariam e nos deixariam na completa penumbra, e das velas que acendemos por besteira. Passamos momentos nos divertindo com historias e falando idiotices, me senti uma criança de novo.
Alcoolizado e alegre, desviei por um segundo meu olhar do vazio do escuro e o foquei nos olhos de Amanda, olhos azuis profundos e vibrantes. Ela não notou, mas eu quase sorri por ela estar do meu lado. Continuei encarando ate que finalmente ela olhou frontalmente pra mim. Eu me afoguei naqueles olhos, meu corpo inteiro se petrificou e subiu uma sensação bizarra em mim, fiquei pálido.
Ela me tocou de leve os lábios com os dedos e se levantou meio cambaleando. Olhou pra traz e sorriu pra mim, enquanto a suas amigas riam próximas. Ela pegou o papel fino de ceda encima da mesa e abriu o pacote, eu a ajudei a embolar o fumo. Acendemos... Fumamos e voltamos a conversar, cada um distante um do outro desta vez.
A conversa começou fluir confusa, para cada palavra que emanava de minha boca a minha visão se distorcia um pouco. Era como se o tempo desacelera-se. Então eu ri, eu simplesmente comecei a rir, e quando olhava para Amanda era como se uma explosão de alegria inundasse meu peito. Levantei impulsivamente e me joguei na cama. Comecei olhar para o nada do teto e sonhar acordado enquanto ouvia as meninas conversarem e rirem largadas.
Um momento de silencio, fechei os olhos, comecei a sentir a música que estava tocando invadir meu mundo, e escutei os passos de alguém que vinha vindo em minha direção... Alguém que sentou ao meu lado na cama.
Ela deitou-se e tranquilamente tocou-me a boca com a carne dos lábios. Deslizou os dedos sobre meus braços, envolvendo-me, assim me fazendo virar e deitar de frente a ela. Abri os olhos, meu ar sumiu e me vi imerso naquele oceano... Naqueles olhos de Amanda.
Sua boca escorregou ate meu pescoço me deixando sem reação, agora não me controlava mais. Sentamos um de frente pro outro, toquei-lhe os seios e desci a mão ate a base de seu vestido preto o levantando, tirei a minha camisa e avancei. Não sei por que, mas, antes de qualquer coisa, coloquei-a entre meus braços e a abracei como uma mãe abraça um filho, apertei fortemente ela contra meu corpo prendendo-a firmemente e fechando meus olhos na esperança de parar o tempo.
Nada mais vi... Despertei de repente e ergui minha cabeça para ouvir o som das palmeiras dançantes e da casa vazia. Minha paixão resume-se a isso... O sussurro do vento em um quarto fechado.

Lucas Boina “Spleen”

Sei lá

Estou me sentindo tipo “sei lá”. Sentindo-me como quem sonha acordado e não vê o tempo passar.
Meu caro leitor, por acaso já se sentiu assim? Sentiu-se “sei lá”? É uma sensação bem curiosa e confusa, você fica bobo e crendo que aquilo que você esta vivendo tem alguma importância, sendo que tal coisa é só um sonho fértil misturado com algumas pitadas do mundo material.
O que me comove nesse sentimento desconhecido é como você mergulha profundamente em si mesmo e afoga naquelas lembranças antigas para depois dar uma boa tragada no ar das previsões do que estar por vir, nesse ponto você já criou um universo intero dentro da sua cabeça. Você simplesmente desenhou seu futuro, para depois apaga-lo quando abrir os olhos.
É até engraçado, talvez porque hoje eu esteja feliz, misturei meu mundinho imaginário com meu presente aparentemente alegre. Sabe leitor, eu estou feliz e se isso for real ou não, pouco me importa... Sei lá, eu mereço um momento de paz pra esfriar a cuca.
Aceita suco de laranja? Vivem falando pra mim que faz bem... Mas eu tomo só porque é gostoso.
_ Sei lá, me traz boas recordações o gosto dessa fruta. _Digo eu para você.

Lucas Boina

Abaçai Auricular

Velejei sobre os cosmos, degustando estrelas e constelações.
Dei a luz ao sol e as trevas da lua. Eu nada sou além do tudo.
Toquei aos beijos as verdades do universo, dúvida e a paixão.
Criei o homem ao gerar Deus. Virtuoso, criei o justo e o caos.

Meus olhos miram em todos, são galáxias cheias de corações.
Emanando o leite da vida nas veias da existência lúdica e bela
Eu me lembro da juventude e da velhice... Pura sanidade louca
A beleza das estrelas-filhas que explodem em áuricas super-novas

A luz noturna é funesta beleza da vanguarda morta de outrora.
O passado dos céus e o seu presente integrando lágrimas futuras
Dualidade concreta, maniqueísmo abstrato e ambigüidade viril.
Nada é tudo de um pouco mais. O tudo no fundo não é nada demais.

Eu brinco com você ao brincar comigo mesmo. Dou-lhe um beijo de boa noite e me despeço aos prantos e sorrisos falsos.

Lucas Boina

"Aos meus mágicos amigos e aos nossos momentos de loucura"