sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Aurora, A bela

(A porta se abre)

As luzes apagadas de um singelo apartamento do subúrbio. Quarto pequeno como de um Hotel barato, um sofá, uma tevê, a cama de casal de lençóis amarrotados. Uma mesa simples de madeira com uma foto e um uísque barato pela metade.

(As luzes se acendem, três passos para dentro ela dá)

O sofá estala devido o peso de uma jovem loira cheirando a cigarro e perfume de moça elegante. (click!) A tevê se liga e fica inquieta entre os poucos canais.
_Que dia_ Pensa a jovem moça loira em voz alta.
Não suportava a rotina, já não sorria verdadeiramente, somente colocava máscaras e simulava alegria aos seus clientes mais formosos. (nota do autor: Tão comum isso, não?) A mesma cama amarrotada de todos os dias e o mesmo cheiro de peixe que já lhe era tão comum.
Ouve-se dois estalos agora, o do frustrado levantar da dama do sofá e de sua queda abrupta na cama de casal. Nota-se também seus pensamentos, cogitou em se matar, porém, logo se esqueceu da idéia, um pensamento tão comum já lhe era desgostoso e não lhe parecia sensato realiza-lo de bom grado.
Não havia escolha, como já falava ela, alguns nasceram pra a perversão e outros destinados aos fios de ouro. Então fechou seus olhos em graças ao suicídio de manhã, sorrio daquele jeito e dormiu.
A porta aberta, as luzes acesas e a televisão ligada. O que lhe restava naquela residência? Auto-estima? Dignidade? Um filete sequer de amor próprio? Só lhe sobrou as historias do quarto solitário no subúrbio de São Paulo, que melhor seria se fossem roubadas e assim tendo se em vida mais uma crônica póstuma de uma cidade grande... Oculta no comum.

_ Café de Satã

domingo, 10 de outubro de 2010

Dirty Jazz

(Obs: Escrevi isso ouvindo uma música chamada "All The Cats Join In" por Benny Goodman, ouve ai e leia isso se possivel hehe.?)

Meio desnorteado
Meio desencarnado...

Cambaleando cantando ébrio com a corja marginal dos gatos, vigaristas e moribundos.
Camisa social amarrotada, sapato enlameado e um terno sujo das manchas do uísque que se encontrava na minha mão esquerda. O uísque era a baba da minha boca e o perfume do seu pescoço... Aquela coisa porca glamorosa, o charme vagabundo do baixo bebop.

Sabe como é, um cara, cinco mulheres e dois amigos que mais parecem cães vira-latas farejando fêmeas no cio, e no caso, também o cheiro de cigarros, álcool e libertinagem.
Vestido curto e meia calça, cabelinho curto e um cigarro preto na boca, como eu gosto de minhas amigas genéricas e bem arrumadas, falando besteira pro vento e soltando fumaça... Cheiro de nicotina excita que nem farinha na fuça ou seios desnudos.

A noite é uma criança libertina para os andarilhos bêbados e tagarelas amiolados.
No meu caso (dois em um), a noite é um feto não gerado.
Meu velho, eu realmente aproveito bem a madrugada, dentro e fora de mim, o inverso do reverso do traslado de cá transado com as bandas de lá ou acolá.
Uma confusão do caralho, camarada... Minhas pernas.

Quero dizer, depois de tanta porcaria dita, escrita e relida eu concluo... Vai dormir meu amigo que dá muito mais certo... Coloca o balde do lado da cama pra você não vomitar no travesseiro e apaga... Bêbado cai e morre vivo...

Porque, depois de fumar beber e trepar a noite inteira, a gente tem que dormir. Para no outro dia acordar com uma ressaca monstro...
_A prova mais concreta que a noite realmente valeu a pena... Beijos e bons sonhos.

zZzZzZ...


Lucas Boina

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Diálogo Ateu

_Sabe qual o problema disso tudo?
_Não, qual?
_Nada.
_...
_Tudo não vale nada, logo, tudo é nada e esse é o problema.
_Cara, acho que você tem problema.
_E é por isso que eu sou Deus.
_Tá, e por que tudo vale nada, infeliz?
_Por que eu quero.
_Mas eu acho que a vida vale algo.
_Não importa o que você acha.
_E por que Não?!
_Porque eu sou Deus.
_Certo, e por que não?!
_Por que errar é humano.
_Cara, você é uma pessoa muito complicada.
_Sim, eu sou Deus.

Fim

Lucas Boina

domingo, 15 de agosto de 2010

Banquete

“Mastigar, engolir, vomitar”

Um prato branco cheio de l(i)(u)xo e ideologias vendidas.
Curioso ainda mais é a sobremesa, va(l)idade intelectual.
Vê se pode!
Mastigue, avalie o gosto.
Engula, sinta o peso da idéia.
E vomite-a para poder comer mais.
Sem perder a compostura física.
No fim, todos ficam gordos e feios... Mas, aproveitemos o momento e não pensemos nisso.

_Chocolate?

Lucas boina

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Só-ébrio.

A sobriedade de estar só
Só no canto da cama
Só na sala de estar
Só assistindo tevê
Só na mesa de jantar

E, talvez uma vez ou outra
Pequenas goladas de paixão
Uma boca molhada de ilusão
Vem na noite a calhar

A madruga em claro
Escrevendo Palavras
Escrevendo Palavras
Escrevendo Palavras
Escrevendo Palavras
Escrevendo...
As ambições

Ambição de querer flertar
Com alguém, Com ninguém
Com nada e com o tudo
O que quero eu?
Ou melhor... O que sei eu?
De nada gosto nem desgosto

Sou poeira no vento do destino
Destino de meus amores
Destino dos meus horrores
Destino das minhas flores
E das hortaliças de meu jardim

Olhando distraído
...
Mas uma vez, sentado sozinho
Bebendo uma taça de Martine
Visão embaçada e distante...
Sã por assim estar.

Lucas Boina

domingo, 9 de maio de 2010

Uma carta

Minha cara morte,

Escrevo aqui meu relatório e como passo em minha nova residência, andança e poesia.
Chove sangue dos negros céus do novo século nas terras pútridas dos homens. Terras poluídas pelo orgulho de exércitos covardes, com duvidosas promessas de paz.
A falsa paz, marcada pelos gritos de crianças amamentadas com o veneno da fome, amamentadas pela munição dos seus incumbidos de proteção.
Sou indiferente disso tudo, mas sinto cada vez mais o gosto inquietante do desespero dos homens esclarecidos, que ao esbanjar tantas riquezas e formosuras brilhantes, se desintegram na lama de uma vida vazia. Uma vida justificada por idéias, sombras e por uma ciência inútil.
Dizem viver a vida e caminhar em direção do progresso, cada vez mais sem limites e escrúpulos. Virtuosidade já não se vê mais, somente alguns falsos poetas pregando de medidas quando esses mesmo se afogam em vinho e extravasam seus desejos em prostíbulos moribundos.
Também vejo homens sérios, honestos, que andam e cumprem seu devido e ordenado dever para com a sua sociedade. Iludidos são, pois, seus últimos dias serão na miséria que vieram ao mundo... Espero que não se importem.
Estas pessoas já morrem ao nascer, se acostumando com as regalias desse mundo pérfido e utópico. Acreditando serem eternas e ignorando a natureza da morte e assim esquecendo-se da própria vida que estão destinadas a levar. Perdem-se no tempo e preferem correr em vez de admirar a beleza de uma rosa numa estrada de terra. Tocando a vida como se não a tivessem e depois choram quando a perdem.
Chove sangue, nessa doce manhã de dezembro. Nada de extraordinário, mas ate romântico. Já me levanto paro o trabalho e me despeço.

Apaixonadamente, um pobre diabo.

“O homem é triste quando ele erra com ele mesmo e se afoga na culpa, mesmo que esta seja uma incógnita”.

Lucas Boina

domingo, 2 de maio de 2010

A pantera do passado

A lembrança é como o vento
Às vezes sopra suave
Beija as velhas cicatrizes
E se vai sem machucar

Nem sempre porém faz brisa
Há dias em que vendavais
Uivam longes indormidos

E lavas de nunca mais
Rubras de amores e infâncias
Estouram contra o presente

Toda a carga de distâncias
Que a pantera do passado
Põe no vento em garra e fera

É assim que nos tempos bons
sequer se lembra o ditado
Tão sentido às tempestades
"... Quanto dói uma saudade!"

Arcélio Curado

(Homenagem a meu falêcido tio Arcélio Curado grande poeta que me inspirou a escrever)